Tuesday, March 17, 2009

Negócio ilegal com lixo despejado em África

Segurndo o jornal The Independent, o canal de TV Sky e o Greenpeace, milhares de toneladas de lixo electrónico do Reino Unido estão a ser despejadas para países africanos. Um chip localizável por GPS foi discretamente colocado num velho televisor deitado ao lixo e, mais tarde, localizado numa lixeira de Lagos, capital da Nigéria, onde os pobres tentam recuperar componentes electrónicos de material ali abandonado. Seguindo o rasto desse chip, foi possível compreender que as empresas contratadas para reciclar ou destruir esse lixo electrónico (“e-waste”) exportam ilegalmente, por dia, 15 contentores para correspondentes seus em Lagos, os quais, depois de uma primeira escolha, largam o resto em lixeiras públicas. É um negócio de centenas de milhões de libras. O mais grave é que esse lixo contém materiais altamente tóxicos - mercúrio, chumbo, cádmio e dioxinas diversas. O Reino Unido produz cerca de 15% do lixo electrónico da União Europeia.

Fonte: PassaPalavra.info

Monday, March 16, 2009

A Crise: onde estão e para onde vão
Luciano Alzaga* - 09.03.09

A Irlanda está à beira da insolvência. A Alemanha avisa que há problemas com outros membros, entre eles a Espanha, e recusa o seu resgate pela UE. Fala-se de implementar um ou mais euros.

O governo da Irlanda anunciou que «está à beira da suspensão de pagamentos» e este anúncio de imediato «agravou a recessão nos países europeus», de acordo com os media burgueses. O país está à porta da repetição da situação que fez ruir a economia da Islândia. Ambas as economias estão baseadas na mesma falsa suposição: que não é necessário criar riqueza, que é suficiente apostar no casino financeiro e imobiliário. A diferença entre estes dois países e os restantes é que estes levaram essa falsa suposição a extremos insustentáveis, por isso caíram antes, Não significa que os outros não venham a cair.

Protagonista nos últimos anos do que os media burgueses apresentaram como uma sensacional história de «êxito», a Irlanda – tal como a Islândia, outra história de «êxito» - está agora imersa numa crise terminal. À recessão acrescenta-se o sector bancário mais golpeado pelas turbulentas apostas dos seus donos e um deficit público galopante, fundamentalmente provocado pelas contínuas ajudas – leia-se utilização dos dinheiros públicos para pagar as dívidas dos burgueses – a esse mesmo sector bancário.

Na realidade os media escondiam interesseiramente o que economicamente foi, de acordo com os manuais, um claro fracasso: abandono quase total do trabalho produtivo para se centrarem no improdutivo, a economia financeira e especulativa, que não produz riqueza: só redistribui a que existe, concentrando-a em poucas mãos (as mesmas de sempre).

O mesmo fizeram a maioria dos países, sendo que alguns – principalmente no Estado espanhol ou nos EUA, mas também na Irlanda – ainda agravaram a situação com a especulação imobiliária. Este «trabalho» improdutivo não só não produz riqueza para o conjunto das pessoas, como até fica uma boa parte da riqueza existente congelada em edifícios que não são utilizados à espera do aumento do seu preço.

A Irlanda anunciou novas injecções de milionárias quantias de dinheiro e avaliza as dívidas dos seus bancos. E isso constitui parte do problema: os estados não têm dinheiro para tapar os buracos criados pelos capitalistas. Os seus malabarismos financeiros atingiram tais extremos que a banca irlandesa está em queda livre e ameaça a própria solvência do Estado.

O seu deficit fiscal (despesas superiores às receitas) já ultrapassa os 6% do Produto Interno Bruto (PBI) e chegará aos 9% em 2009. Por esta qualificação creditícia a Irlanda já viu diminuída: prevê-se que o estado não tenha dinheiro para pagar os empréstimos aos organismos financeiros internacionais, e as emissões de obrigações do Tesouro ninguém as quer.

Pago-te amanhã

Bruxelas começa a deixar ver que os multimilionários salva-vidas aos donos da banca tiveram escassos resultados. Ainda qu não o diga claramente, isto deve-se, fundamentalmente a três razões:
- Niguem acredita que os Estados disponham de tanto dinheiro. As medidas de salvação estão a ser tomadas com pagarei, o que significa que se vão emitir bilhetes de Tesouro pelos montantes acordados, na esperança de que alguém os compre, coisa bem rara neste momento. Ou seja, os banqueiros estão a salvar-se com dinheiro que não existe e que, no final, em algum momento serão os povos a pagá-lo.

Os EUA estão na mesma situação, já que ninguém quer comprar os seus títulos do Tesouro, e para o seu famoso plano de 800.000 milhões chegou a uma solução trapaceira já utilizada em 2007: compra a si mesmo os títulos do Tesouro. Perante a pergunta óbvia de com que dinheiro os compra, a resposta mais plausível sugere que é com dinheiro recentemente impresso, isto é dinheiro sem qualquer valor (http://www.lahaine.org/index.php?p=36087).

- As apostas na bolsa e no mercado imobiliário dos banqueiros foram demasiado forte, e os efeitos vão chegando espaçados no tempo, à medida que se vencem as obrigações ou se desmoronam outros bancos e sociedade financeiras que tinham oferecido pechinchas para atrair esses banqueiros. É por isso que as ajudas de hoje, amanhã já não servem.

- Os banqueiros utilizam o dinheiro dos salva-vidas estatais para cobrir os seus prejuízos pessoais e o dos accionistas mais importantes, e não para dar crédito à indústria ou assegurar os depósitos dos clientes. Por isso a crise vai continuar e, seguramente, agravar-se.

A Comissária para a «Concorrência» da UE já avisou que a zona euro deverá «tomar decisões duras sobre reestruturações ou possíveis liquidações controladas. E estas decisões deverão adoptar-se muito rapidamente». Em linguagem de gente isto significa que o que até há muito pouco era o maior pecado de um governo neoliberal (estatizar já que o mercado com a sua eficiência resolve todos os problemas) tenta-se agora vender como o único remédio.

Perante a crise provocada pelas suas apostas irresponsáveis, o capitalismo volta à sua essência: a lei da selva, o salve-se quem puder, a lei do mais forte. Neste caso o mais forte é a Alemanha e a sua corte de países eficientes. Há que salvar o euro, ainda que caiam países «amigos».

A Alemanha recusa-se ajudar países de segundo nível

O ministro das Finanças alemão reclamou que os parceiros fortes do bloco não ajudem os países com problemas, que poderiam car em mora, e afirmou que a Irlanda é um país «muito difícil». Referia-se, evidentemente, à rejeição do povo irlandês ao tratado europeu, factura que agora vão fazer pagar.

O Comissário para os Assuntos Monetários da UE, o ex-candidato presidencial do PSOE Joaquin Almunia, sempre alinhado com as preocupações alemãs, já advertiu que a Irlanda, a Grécia, a Espanha, a França e Malta, países da zona euro, e a Letónia que não pertence ao bloco regional, têm deficits públicos excessivos (o máximo aprovado em Maastricht é 3% do PIB).

Em Espanha, apesar das reiteradas declarações de que «estamos melhor preparados que outros países para suportar a crise», declarações que também fizeram os ministros islandeses e irlandeses, a situação é crítica. Standard and Poor’s (sector da bolsa de Nova Iorque que se encarrega de classificar as empresas e países de acordo com o seu nível) reviu recentemente em baixa a qualificação da dívida de Espanha, Grécia e Portugal, o que obriga estes países a pagar taxas de juro mais elevadas nos empréstimos para financiar o deficit.

Como consequência desta situação, a diferença entre as taxas de juro de países da zona euro nunca foi tão elevada, o que dá argumentos aos alemães para afirmarem que «isto põe à prova a União Monetária, um dos fundamentos das UE». Enquanto a Alemanha tinha há uma semana uma taxa de juro para empréstimos a dez anos de 3,04%, a da Irlanda era de 5,54% e a da Grécia de 5,58%. Fora da zona euro, no leste da Europa, a da Polónia chegava a 6,12% e a da Hungria cerca de 12%.

O Tratado de Maastricht impede que o Banco Central Europeu (BCE) ou algum país ajude ao resgate de outro em caso de insolvência; o BCE, dominado pela Alemanha, mostra claramente que não está interessado em actuar em resgate dos Estados de segunda categoria e a Comissão Europeia não pode, segundo os tratados da UE, pedir fundos aos mercados. Dito por outras palavras, a ideia das «euro-obrigações» – empréstimos a Estados garantidos por vários países para dividir riscos – permanece bloquedapela Alemanha, que resiste a «pagar pelos outros».

Criar dois ou três ouros

A incerteza Teve consequências: em pouco tempo, o euro passou 1,60 para 1,25 dólares, coisa que preocupa os alemães já que, entre outras coisas, isto implica que são necessários mais euros para comprar combustíveis, matérias-primas e tudo o que no mercado internacional se vende em dólares. Para evitar que o euro continua a desvalorizar-se, arrastando para a queda os países de segunda categoria já se começa a falar de dois ou mais euros.

Na Alemanha, os planos de resgate de burgueses também denunciam um quadro de acordo com o tom geral: salve-se quem puder. E reafirmam a opinião dos analistas que o dinheiro é do BCE é para ajudar os países mais fortes. O governo da chanceler Ângela Merkel aprovou emenda que dá luz verde à nacionalização temporária dos bancos que estejam à beira da banca rota, o que vai exigir muito dinheiro e dinheiro valorizado.

É importante esclarecer este «temporal»: a privatização dos serviços públicos que dão lucro é definitiva, mas a estatização dos bancos é temporal. Isto é, quando a situação económica melhore os bancos serão devolvidos aos seus donos que, assim não terão de pagar do seu bolso os desastres que fizeram com o dinheiro dos clientes. Quando há perdas paga-as o Estado; quando houver lucros serão para os banqueiros.

Com estes dados. Começa a ficar claro o que se diz ser a intenção da Alemanha: manter um euro forte nos países nórdicos e alguns mais, e deixar à sua sorte ou criar um euro de segunda categoria para os restantes países. Ou talvez três euros: forte, médio (para a França, Espanha, Itália…) e fraco para a Irlanda, Grécia, Portugal e os países do Leste europeu.

Da esquerda à direita é agora moda dizer que a crise oferece oportunidades. A Alemanha já as está a ver: tira o apoio às ajudas da UE aos países de mais baixo nível económico, mas que vão continuara a ser mercados cativos, e com o euro forte pode comprar no mercado internacional em melhores condições e continuar como actor de primeiro nível na economia mundial, sobretudo agora que o dólar se debilita. E sonhar que um dia a sua moeda seja a de referência (o Reich que duraria 1.000 anos…).

Nota: Muitas das ideias exportas neste texto provêm do seminário promovido por Wim Dierccksens de 13 a 16 de Fevereiro de 2009 na Universidade Luterana de El Salvador


* Luciano Alzaga, jornalista, é amigo e colaborador de odiario.info.

Publicado em odiario.info

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